LAÇOS DE AFETO

 


Laços de afeto (Il filo invisibile, Itália, 2022). Direção: Marco Simon Puccioni. Elenco: Filippo Timi, Francesco Scianna e Francesco Gheghi.

Um filme surpreendente, coisa rara nesse gênero. Parece mais um comercial com temas bem pensados, estratégias calculadas e a formatação, pouco a pouco, de um painel muito inteligente sobre as principais questões que gravitam em torno de histórias gays no mundo inteiro. E tudo isso, mesmo considerando a pegada italiana, sem exageros. Uma trama que enquadra tudo tão direitinho que parece mais uma receita de bolo do que um filme feito recentemente.

O enquadramento na primeira pessoa – o garoto conta sua história num documentário da escola – se presta bastante bem para que a gente seja conduzido por ele mesmo quando as cenas não lhe dizem respeito. E não parece existir a ideia de resolver os problemas com soluções psicológicas profundas: tudo é imediato, rápido, total. Chega a ser banal, produto de publicidade pura, sem nenhum tipo de abordagem mais séria.

De toda maneira, a história se encaixa com muita facilidade e sem maiores explicações. Algumas situações nem são muito plausíveis como o garoto rebelde que gosta de bater em outros garotos e que, de repente, pacífica e serenamente, se assume com apenas um toque mais próximo com o herói da história. Ou ainda, no mesmo núcleo, o fato de não ter causado nenhum problema maior que um cupido para uma relação homossexual se tornasse, suavemente, a parceira do herói heterossexual sem traumas.

Achei que a intervenção em inglês da mãe de aluguel uma sacada muito inteligente do roteirista. Ficou bacana a percepção norte-americana do pragmatismo afetivo para “acebolar” a relação de dois homens italianos que queriam ser pais. Os diálogos finais ajudaram muito ao filme no sentido de encontrar uma espécie de “lição de moral” para toda a história. Ficou interessante isso dito em inglês naquela cena de humor pastelão num hospital em Roma.

Destacaria, ainda, para finalizar a engraçadíssima parceria entre os dois adolescentes que fazem o documentário fazendo um protesto: se o trabalho acadêmico era dos dois, qual foi a razão de tudo se concluir com o Leone e o pobre do Dario nem pode aparecer para ganhar a nota?

Rafael Vieira

15.06.2022 - Netflix

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